quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Caminho

Caminhava. Cansara-se. Havia perdido a noção do tempo, mas ainda era dia. Ou acabara de amanhecer? Não sabia. Apenas andava, andava e andava. As folhas secas fazendo um barulho calmante e leve sob seus pés, quase como se agradecessem que pisasse sobre elas. As árvores balançavam preguiçosamente com uma brisa fresca e leve, que mantinha o clima agradável e convidativo para uma caminhada, meio que hipnotizando.....”venha...caminhe....sim, entre e ande...não tenha medo.”

Mas...o que estava fazendo ali? Não lembrava...tantos foram os passos para chegar até aquele lugar, tantas estradas percorridas, decisões tomadas...e ainda não descobrira o que estava fazendo por aquelas bandas. Talvez estivesse procurando algo...ou quem sabe fosse encontrar alguém? Ou levando o cachorro pra passear...mas espera...estava só; não tinha cachorros.

Lembrou-se então de um lugar que vira, nalgum dia da sua vida, e que talvez fosse onde estivesse tentando chegar. Na época parecia que era algo inalcansável, mas agora não se sentia diante de quaisquer obstáculos para encontrar esse lugar. Resolveu apressar o passo, animando-se com a nova perspectiva. Sempre tememos o desconhecido, afinal, pois temos nossa zona de conforto e acomodamo-nos facilmente com as situações, mesmo as piores ou mais precárias. Qualquer coisa fora disso nos parece estranha e, algumas vezes, até assustadora. Porém, quando se dá um passo nessa direção nova e estranha, você percebe maravilhado que há todo um mundo lá fora, toda uma nova situação e que ela vai ser boa ou ruim dependendo apenas de você. A sua vontade e a sua crença em algo novo é o que move o seu mundo e o torna mais ou menos assustador. Mas se você tiver os pensamentos fluindo corretamente, ele pode ser maravilhoso.

Descobriu uma trilha em meio às folhas secas. “Uma trilha sempre leva a algum lugar”, pensou, e resolveu segui-la. O caminho contorcia-se languidamente entre as arvores de um bosque vermelho-amarelado pelo outono. No entanto, as folhas ainda não haviam caído de todo, e a sombra era fresca e confortável. O cheiro da vegetação era quase inspirador; podia-se flutuar em meios as faias. Podia se lembrar de ter passado em um lugar semelhante em algum ponto muito lá atrás, mas a lembrança era vaga. Sim, pois o que importa é o agora, você colhe aquilo de que se lembra, aprende algo, mas vive a intensidade do agora.

Então as árvores foram se afastando. Uma clareira pequena abriu-se diante de seus passos leves e então foi que a viu. Estava lá, o tempo todo, esperando ser descoberta. Lembrava-se daquilo de algum momento, mas não sabia de qual.

No centro da clareira, cercada por algumas árvores menores e todo um chão atapetado de folhas trazidas pelo vento, erguia-se uma bela cabana. Suas paredes de tijolos vermelhos estavam cobertas por arbustos e trepadeiras que a mesclavam amigavelmente com a vegetação. O telhado alto e rústico parecia uma capa para proteger a pequena construção dos dias mais frios. O caminho terminava em uma porta no meio da parede lateral. Lá dentro, o silêncio.















Não sabia se batia, ou se tentava entrar. Uma luz tênue e avermelhada vinha do seu interior, através das janelas cerradas por cortinas brancas. Da chaminé emanava uma lenta e sonolenta fumaça, fraca e balouçante. A brisa agora havia quase que cessado por completo, e o ar estava leve e descontraído.

Aproximou-se da porta. Todo aquele caminho, cheio de voltas e contratempos, de pessoas e trilhas que levavam hora a incríveis descobertas, hora a lugar nenhum, vieram-lhe à mente. Tudo o que havia sido, o que tinha feito, o que aprendera; nada disso ajudava muito na decisão agora. O ar da floresta, o cheiro da folhagem e a temperatura tinham um efeito quase entorpecente, mas ao mesmo tempo encorajador. Afinal, o modo como você vê e reage ao mundo, é sua decisão. Pegou na maçaneta.

Girou.